Hoje compartilho com vocês um ensinamento da minha Professora de Pediatria, Eugênia Ribeiro Valadares, nos tempos de faculdade da UFMG. Ela me pôs em contato com uma das mensagens mais profundas da minha formação acadêmica, mas que à época, com 21 anos de idade, eu ainda não tinha maturidade para entender.
Pois bem, a lição de vida foi em um atendimento de pediatria no conjunto Santa Maria, uma região muito pobre de Belo Horizonte. Nesse dia, o meu grupo de colegas se deparou com uma daquelas situações de impotência, mãe vítima de violência doméstica, com filho portador de doença grave, marido alcoólatra e desempregado, enfim, miséria em todos os sentidos. A Mãe abatida, triste, sem esperanças, levou seu filho para mais um atendimento no posto, sabe-se lá por quê, quem sabe cumprindo a sentença do instinto materno. Após relato da mãe, apática, chamamos a professora e expusemos a situação, na expectativa de uma proposta de tratamento nos moldes da medicina convencional.
Para nossa surpresa, a professora sentou em frente à mãe, tocou-lhe o braço e perguntou: “Próximo a sua casa ou no caminho há alguma flor, daquelas coloridas, bem bonitas?”. A mãe do paciente, meio que sem entender, não respondeu de imediato e a professora insistiu “_Tem?”. Então a mãe respondeu que sim.
E lá veio a receita: “Todos os dias você vai colher uma dessas flores, colocar em um copo com água e deixar em um lugar de sua ‘casa’ onde você possa vê-la a maior parte do tempo.” A mãe sorriu levemente.
No mesmo dia, em nosso GD (Grupo de discussão), indaguei sobre a conduta: “Como seria possível sugerir àquela mulher com tantos problemas reais, que procurasse flores para colocar em casa? Aquilo me soava meio hipócrita.” Mas a professora, com toda a tranquilidade, respondeu: “Há momentos em que a única coisa que podemos fazer é lembrar aos nossos pacientes que existem coisas belas e que a vida vale a pena.”
Hoje, passados quase 25 anos, ainda me emociono com a sensibilidade dessas palavras.
Acredito que estamos em um desses momentos difíceis da humanidade, sem uma perspectiva real de solução a curto prazo, portanto ter flores em casa pode ser uma alternativa para se preservar a esperança, para exercitarmos a habilidade de encontrar coisas boas e belas em meio ao caos, pois viver bem, com qualidade, pode estar intimamente ligado à capacidade de tirar o foco do problema e buscar sentido para continuar, lembrando que a vida é um presente que requer de nós o cultivo de jardins.
Autora: Marcone Cordeiro Macedo Maciel, Médico Ginecologista da Clínica AvantMed em Capelinha-MG.
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